
Graças à Deus pela nossa capacidade de pensar. E não só isso, mas também de termos lembranças de momentos vividos. Lembro-me, por exemplo, quando ainda criança, que brincava de assoprar na barriga de meu pai. Lembro-me também como minha mãe me chamava carinhosamente de "Tan" (só mãe mesmo!). Mas era assim. E era bom. Lembro quando ia brincar de futebol com meu irmão Almir. Toda vez o papai comprava uma bola "dente-de-leite" para o Almir e a "dentinho-de-leite" para mim. Que boas lembranças meu Deus. Lembro também quando brincava na rua com minha irmã Cleomara, muitas vezes escondido da mamãe, que ia trabalhar pesado para comprar o caderno e o restante do material básico para que eu e meus irmãos pudessem estudar. Lembrei também quando ia "trabalhar" com o papai na Marcenaria D. Sales. Eu mais atrapalhava do que ajudava. Perguntava muito. Papai dizia que eu ia ser repórter. Não fui. Ainda bem. Lembro-me muito das brincadeiras que o Antonio, meu irmãos mais velho, fazia com a gente. Ele fazia umas perguntas e quem acertava ganhava uns trocados. Como era legal! Lembro-me também quando a Mara, minha irmã nega, casou. Como eu gostava de dormir na casa dela! Era uma curtição pra mim. Quando o Mateus nasceu. Eu ficava "admirando-o". Ele era engraçado. Lembro-me de como gostava de ir pra casa da tia Zuleide. Como me sentia protegido! Lembro-me quando ia "reparar carro na bola da Suframa". Ganhava uns trocadinhos e juntava tudo pra comprar alguma coisa pra mim, um tênis, por exemplo. Era muito legal ir com a turma. Uma vez a galera "botou" a gente pra correr, mas, como medo, era quase impossível me pegar na "carreira". Ah como me lembro quando ia pegar fruta no mato. Goiaba, taperebá, manga, tucumã, aí Jesus! Como sinto falta disso! Chico da Silva que o diga: "que tempo bom que não volta nunca mais". Lembro-me quando fazia "bala" pra "balar" passarinho. Eu, Davi e outros. Que pecado! Matar os bichinhos, mas já me arrependi. Era o tempo da ignorância. Até porque a gente matava pra comer. Tempos difíceis. Só que eu era ruim de mira. Acho que se acertei uns 5 durante toda minha infância foi muito. O Davi não. Toda vez que a gente saía pra "balar", ele trazia uns 2 ou 3 no "bozó". Lembro-me dos retiros na juventude. Meu Deus, como posso esquecer disso! Como Deus falava conosco. Elimar, Cesinha, Carlos Dias, Andreza, Carlinhos Auzier, Marcão, tinha até um que os meninos chamavam de "indiana jones". Lander, Marcilene, "Japão", Nei, "Cileno", Silvio, Miquéias, meu grande amigo! Como posso esquecer de vocês! Foram momentos tremendos da minha vida no passado. Como sou grato a Deus por cada instante que vivi. Guardo nas minhas memórias e jamais quero esquecer de cada uma delas.
Contudo tem algumas coisas que não gosto de lembrar, mas elas estão ali, se impondo na minha mente. São aquelas lembranças dolorosas, que fazem muito mal pra gente lembrar. Lembro-me quando minha vozinha morreu. Como eu a amava. Ao mesmo tempo em que ela era "braba" também era muito dócil. Contradição inexplicável que só pertence aos diferenciados. Não contradição moral, de caráter. Isso não é de Deus pra nós. Foi muito triste perder a "dona Dudu". Meu consolo é que o céu ganhou. Ela combateu o bom combate, encerrou a carreira e guardou a fé. Agora está no regaço dAquele que lhe dará a coroa da vida! Tem muitas outras que não quero nem lembrar. Como dói lembrar das pessoas que traíram meu amor e minha confiança. E estas memórias é que são perigosas. Porque se não tivermos cuidado elas nos páram, como se engessasse no ânimo. Estas não quero pra mim! Esta eu deposito aos pés do meu Senhor. Essas eu não sei lhe dar com elas. Por isso, entrego nas mãos dEle. Se hoje, alguém ler esta reflexão e se sentir assim, descanse nos braços dAquele que sabe muito bem consolar. Não gosto dessas memórias, não quero essas memórias. Mas às vezes elas vem tão forte que parece que estou vivendo tudo de novo (na verdade de velho). Injustiças, ingratidão, desvalor, ofensas, humilhações, palavras negativas, abandonos, traições. Não sou diferente de ninguém. Vivi e vivo as mesmas experiências que todo mundo. Mas uma coisa quero fazer. Não quero ser refém de mim mesmo, nem das más lembranças. Não quero andar com ninguém acorrentado a minha alma. Quero sim viver com Cristo entronizado no meu coração. E para isso não pode haver nada estabelecido no meu ser, além do Senhor, porque só há um trono dentro de mim. Este eu consagro a Ele, que morreu por mim, igualou-se a mim na minha miséria, para que, pelas suas enfermidades, eu me tornasse um homem curado! É isso que quero. É isso que busco. É isso que jamais vou desistir de buscar. Infelizmente, na nossa trajetória de vida, tem gente não tá nem aí pra nós. Mas não tem problema. Todo consolo que precisamos está plantado e garantido na cruz do calvário.
Decidi fazer esta reflexão sobre "Memórias" por que sei que muitas vezes elas brotam em nós como fantasmas, assombrando e amedrontando. Mas hoje, Aquele que não é apenas um Espírito, antes encarnou para nos desatar dos nossos medos, está conosco, ao nosso lado e dentro de nós, nos dando força para prosseguirmos. A Ele minha vida, mesmo se eu tiver que conviver com algumas memórias. Estou bem certo que um dia ele enxugará dos meus olhos toda lágrima e as memórias que hoje me machucam, serão apenas uma lembrança de que Ele sempre foi comigo, e sempre foi Fiel. Amém.
Sérgio Lira
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